2006 Carta aberta aos membros do Diretório Nacional do PDT

A falsa “esquerda” e a verdadeira “direita” II
O PDT frente ao neoliberalismo petucano no segundo turno das eleições de 2006

"Um ex-operário, que nega agora ser de esquerda, é, sem dúvida uma atração que nada fica a dever ao antigo sociólogo esquerdista que tornou-se o príncipe do neoliberalismo". Tijolaço de 22 de janeiro de 2004.

"E o pior, o mais triste, é que o fracasso de Lula, por ser igual a FHC, prepara a volta do próprio Fernando Henrique". Tijolaço de 6 de maio de 2004.

É uma grande perda de tempo, se não fosse um grande equivoco, que dirigentes do PDT defendam as candidaturas neoliberais de Lulla e Allckmin como se as duas tivessem algum tipo de compromisso com nosso projeto histórico.

Alguns de nossos dirigentes teimam em se equivocar ao afirmar que a candidatura de Lulla é a alternativa de esquerda no segundo turno das eleições e uma maioria, de acordo com informes da Executiva Nacional do PDT, transforma em “causa do PDT” a candidatura tucana de Allckmin. Estes posicionamentos demonstram o quanto a falsa polarização petucana influenciou até os dirigentes partidários que a combatiam no primeiro turno. Outros defendem que o PDT não apóie oficialmente nenhuma das candidaturas e libere seus filiados.

Porém, o fato que me espanta muito mais é a desfaçatez dos que avançam celeremente para o “alambrado”. Por um lado, os que aparentam uma grande identidade ideológica com os tucanos a ponto de na véspera da reunião de nosso diretório reunirem-se com o tucano Allckmin como o Paulinho da Força ou como o senador Osmar Dias que proclama entusiasmado que “Geraldo Alckmin vai ressuscitar as esperanças do povo brasileiro”. Por outro, atitudes como a do Governador Valdez Góes, do Amapá, que declarou imediatamente apoio a Lulla ao terminar o primeiro turno; do ex-Governador Ronaldo Lessa que participou de atividades de campanha de Allckmin, em Alagoas, ou de João Fontes, do Sergipe, que no primeiro turno fez a campanha de Heloisa Helena e agora defende a candidatura de Allckmin. Ao menos Ronaldo Lessa e Paulinho da Força tem participado das reuniões do partido; os outros raramente, ou nunca, comparecem.

Hoje, só temos três alternativas: Lulla, Allckmin ou não apoiar nenhuma das candidaturas. O problema é o número significativo daqueles que baseiam os seus posicionamentos única e exclusivamente em uma postura sectária que turva a capacidade de análise e de discussão serena e objetiva sobre qual rumo o PDT deve tomar nesse segundo turno. Nesse momento devemos levar em conta qual seria o cenário mais favorável para o avanço de nosso projeto histórico nos próximos anos.

Entendo que o melhor cenário para o PDT seria a eleição de Lulla e a derrota de Allckmin. Em 2002 muitos brizolistas relutavam em acompanhar Brizola no apoio a Lulla no segundo turno contra Serra(PSDB). Na época usei o voto de castigo como argumento: "faça uma maldade com o PT vote em Lulla!". Em minha opinião o povo trabalhador brasileiro tinha que eleger Lulla para que o PT e sua liderança fossem desmascarados como alternativa ao sistema.

Passados 4 anos o povo já tem uma noção do que significam Lulla e, mais ainda, o PT. Porém, ainda não conseguimos firmar politicamente uma alternativa e o povo continua votando em Lulla por falta de uma opção transformadora com a qual se identifique. Portanto, votar criticamente em Lulla, se mantendo na oposição, significa ganhar 4 anos com um panorama favorável para construir uma alternativa nacional, popular e classista ao neoliberalismo petucano do PT e do PSDB. O PT já está desacreditado perante o povo trabalhador e Lulla não poderá se reeleger. E ainda existe a possibilidade de, no próximo mandato, Lulla se aproximar dos tucanos e cair totalmente no descrédito.

Perdendo, Lulla se legitima como alternativa em 2010 e tem de reconstruir o PT. Derrotados com o apoio popular eles retomarão sua inserção no movimento social com o apoio das máquinas sindicais e das ONG´s e da maior bancada de oposição. Oportunistas que são, retomarão o discurso oposicionista e disputarão com o campo popular e classista a direção política dos movimentos sociais e os corações e as mentes do povo trabalhador, com o objetivo de se legitimar eleitoralmente para 2010. Portanto, o melhor “castigo” que podemos dar ao PT será manter Lulla mais 4 anos no governo com sua ambigüidade neoliberal.

O PSDB ganhar significa a possibilidade de 4 anos de radicalização do neoliberalismo. A continuidade dos "programas compensatórios" permitirá a disputa com o campo popular e classista do apoio dos setores excluídos e, por fim, com a utilização da máquina governamental aumenta a possibilidade de reeleição de Allckmin ou a eleição de Serra ou Aécio, com o neoliberalismo ganhando mais um mandato. Perdendo, o PSDB não tem nenhuma inserção no movimento popular ou junto ao povo pobre e não irá nos atrapalhar, mantendo-se eleitoralmente na "Daslu".

O PDT está encerrando um ciclo de sua história e pode, nesse segundo turno, dar indícios de quais serão os rumos desse novo ciclo. Podemos nos consolidar como uma alternativa política - e até mesmo de poder - pela esquerda do espectro político, apoiando criticamente a candidatura de Lulla contra Allckmin ou não apoiando nenhuma das candidaturas. Ou podemos nos transformar em um mero apêndice de "esquerda" da direita apoiando Allckmin e caminhando para nos transformar em mais uma legenda no mercado eleitoreiro das elites e comprometendo seriamente o PDT como uma alternativa política para o povo trabalhador.

* professor, 45 anos, milita ininterruptamente no PDT desde 1982. É historiador com especialização em História do Brasil e Educação a distância e sindicalista. Membro do Diretório Estadual do Rio de Janeiro e do Diretório Nacional e diretor da Fundação Leonel Brizola - Alberto Pasqualini. Membro da coordenação do movimento bolivariano Círculos Bolivarianos Leonel Brizola. Quando jovem foi diretor da UEE-RJ e dirigente nacional da Juventude Socialista do PDT.

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