2006 segundo turno eleição presidencial

Carta Aberta aos Dirigentes e Militantes do PDT
Núcleo Ruy Mauro Marini do PDT

Olhar para frente no segundo turno !
Ao lado do povo trabalhador, sem ilusão em Lula e barrando os reacionários


No primeiro turno das eleições, apresentamos uma proposta baseada em nosso projeto histórico e colhemos o fruto de 25 anos de luta e plantamos uma semente que poderemos cuidar a partir de 29 de outubro. Colhemos a vitória de nos tornarmos o único partido identificado com o trabalhismo que superou a cláusula de barreira e, apesar de amargamos um quarto lugar nas eleições, plantamos a semente de um “primeiro segundo lugar” no coração e nas mentes do povo trabalhador brasileiro (seja do proletariado – os pobres e a classe média baixa, parte dos incluídos – seja do pobretariado – os excluídos.)

Porém, a vitória não foi completa. A incapacidade política dos partidos populares e classistas (PDT, PSOL, PCB, PSTU, PCdoB e PSB) e de setores desse campo que ainda existem no PT, PPS, PV e minoritariamente no PMDB de sequer tentar construir um programa e uma estratégia conjunta impediu o surgimento de uma alternativa consistente ao neoliberalismo petucano e levou à consolidação da falsa polarização petucana.

Partindo das “pesquisas” manipuladas, da possível fraude eletrônica como uma realidade objetiva, do uso do poder econômico e político e da grande mídia e da incapacidade dos partidos e correntes do campo popular e classista, Alckmin e Lula se “legitimaram” pelo voto popular para disputar o segundo turno das eleições.

Em nosso entendimento, o povo brasileiro sofreu duas grandes derrotas em sua caminhada pela libertação nacional e social: o Golpe Militar de 64 e o Governo Lula. Portanto, não nos faltam razões para não apoiar nenhuma das candidaturas neoliberais que disputam o segundo turno das eleições presidenciais. Tanto PSDB quanto o PT utilizaram a corrupção como principal instrumento de ação política. Porém, seria um grande equívoco de nossa parte afirmar que não existem diferenças entre a candidatura de Lula e Alckmin, mesmo que essas diferenças resumam-se nas concepções de alas de direita e esquerda de um mesmo projeto histórico.

O governo Lula, devido às pressões de sua base social não teve condições de dar continuidade à política de privatização e nem de aprofundar radicalmente as “reformas” neoliberais ou de criminalizar os movimentos sociais. Seu governo nunca teve a coragem de enfrentar os Estados Unidos ou de romper definitivamente as negociações da Alca; porém, foi mais coerente que o seu antecessor: apoiou iniciativas integracionistas, como o gasoduto do Sul e o Mercosul como área alternativa a ALCA impulsionada pelos EUA: bem como optou pelo dialogo na situação da nacionalização das reservas de hidrocarbonetos na Bolívia.

Por outro lado, Alckmin é identificado com a reacionária Opus Dei, e com a versão mais repressiva e antipopular do capitalismo neoliberal. Um provável governo de Alckmin será um governo reacionário, que buscará a privatização do pouco que resta de empresas nacionais, como a Petrobras, os Correios e os serviços públicos, e investirá na repressão aos movimentos sociais.

Entendemos que é a percepção dessas pequenas diferenças, somada à incapacidade do campo popular e classista de desconstruir a falsa polarização petucana no primeiro turno, que tem levado o povo trabalhador a optar por votar em Lula. Lula foi uma grande decepção, mas do ponto de vista dos pobres e dos oprimidos Alckmin é sem dúvida muito pior do que Lula.

Nessa conjuntura a orientação de uma análise conjuntural de Brizola nunca se fez tão necessária. Porém, ninguém pode afirmar qual seria a decisão de Brizola no segundo turno das eleições, mas podemos tentar entender qual metodologia orientava as suas ações nesse tipo de conjuntura. Qual a metodologia que Brizola utilizava em conjunturas onde se afunilavam alternativas ?

Podemos encontrar conjunturas desse tipo nas eleições de 72, quando, a partir do exílio, Brizola fez campanha pelo voto em branco perante a vacilação do MDB em combater a ditadura; no processo de impeachment presidencial de Collor, onde Brizola inicialmente questionou o processo, desconfiado dos apoios de vários corruptos e corruptores e nenhum apoio popular e no segundo turno das eleições em 1989 e 2002, em que Brizola imediatamente apoiou Lula. Em todos esses momentos sua tendência foi seguir o rumo que o povo trabalhador pobre e excluído estava apontando. Brizola, com toda certeza, não tinha ilusão com o MDB, Lula ou Collor, mas sua sabedoria apontava que a bússola que deve orientar nossas decisões nesses momentos tem de ser o sentimento popular.

O que percebemos por tais atitudes de Brizola é que nessas conjunturas não podemos ser vanguardistas e colocar nossas verdades – causas ou projeto histórico - acima do sentimento popular baseado no nível de consciência possível do povo trabalhador em cada momento histórico. Temos de estar ao lado do sentimento do povo pobre e oprimido, mesmo que isso nos coloque em posições desconfortáveis, pois será esse posicionamento que nos dará credibilidade para que na luta ao lado desse povo por sua libertação possamos ganhá-lo para o nosso projeto histórico de nação.

Assim, analisando qual é o sentimento popular e onde está o nosso povo trabalhador no segundo turno dessa eleição presidencial, terminamos por concluir, desconfortavelmente, que o povo trabalhador, os setores que desejamos representar, por restarem apenas duas candidaturas, estão optando claramente por votar em Lula para derrotar Alckmin. Uma tendência que se verifica desde o primeiro turno, evidenciando nossa incapacidade ou impossibilidade de impedir a falsa polarização petucana.

Se adotarmos uma lógica vanguardista levando em conta única e friamente a nossa causa, defenderemos que o PDT não pode apoiar nenhum dos candidatos, pois somos oposição ao neoliberalismo e não podemos votar nos dois lados de uma mesma moeda. Afinal, Brizola sempre deixou claro que o PSDB e o PT tinham o mesmo projeto para o país. Representam a falsa “esquerda” e a verdadeira “direita” do neoliberalismo petucano. Restaria nos definirmos pelo voto branco, já que a alternativa de votar nulo seria uma incoerência, uma vez que o voto nulo nega em última instância, o processo eleitoral do qual participamos desde o primeiro turno.

Brizola nos deu seguidas provas de ser movido por um profundo senso de perspectiva histórica, arraigado sentimento nacionalista e pelo que ele chamava de “entrega total ao trabalhismo”. Brizola era dado a arroubos apaixonados, principalmente ao fazer escolhas de rumos e ao defender princípios. Não raramente pagou caro por isso. Jamais, no entanto, agiu movido pela mágoa. Como Brizola cansou de nos ensinar, o sectarismo e a mágoa são, quase sempre, maus conselheiros na política.

Temos de ser coerentes com a lição de Brizola de que devemos tomar nossas decisões sempre baseadas no compromisso com as nossas causas, mas que em momentos de impasse como o que estamos passando, devemos sintonizá-las com o sentimento popular. Sendo assim, o PDT deve indicar o voto critico em Lula, identificando-se com o sentimento popular de voto contra o aprofundamento radical do neoliberalismo com o retorno do PSDB/PFL. Essa indicação deverá ser divulgada por uma Carta ao Povo Trabalhador onde o PDT explicite por que nosso apoio é critico e, assim, fortalecer seu referencial perante o povo trabalhador brasileiro como um de seus instrumentos de luta.

Para nós, será um posicionamento amargo, regado ao som das ironias e do sarcasmo dos traidores da causa popular, mas é melhor estar ao lado do povo trabalhador do que com a ilusão da consciência tranqüila do vanguardismo pequeno burguês - votando nulo ou em branco - ou confundir o povo trabalhador, pautados pela lógica sectária que tanto combatemos em nossos adversários, ficando ao lado daqueles que o exploram e oprimem há mais de 500 anos.

As conseqüências de nossas decisões o tempo nos mostrará...

Revolucionariamente, saudações brizolistas

Aurelio Fernandes, João Claudio Pittilo, Ricardo Hiroshi, Iacilton Matos, João Leonel, André Gustavo, André Cardoso, Julio Barros, Mariana Fernandes, André Cardoso, Winston Sacramento, Francineide Salles, Victor Leonardo, José Carloss, Ailton Miranda Junior, Marcelo Sancho, Anderson Haber Martins, Isabela Martins, Edvaldo Barbeto e outros lutadores e lutadoras sociais pedetistas identificados com o projeto histórico do trabalhismo como caminho brasileiro para o socialismo dentro de uma perspectiva brizolista revolucionária.

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