Convenção Nacional de 2002 quando me posicionei contrariamente a candidatura Ciro Gomes

09 de junho de 2002

Carta aberta aos militantes e dirigentes do PDT

Lamentável ...

A rosa que trago no peito
Você me mandou tatuar
Teu nome gravado de um jeito
Que faz eu pra sempre ficar
Ivan Lins

Meu amor não é amor de mercadoEsse amor tão sagrado não tem para lucrarMeu amor é tudo quanto tenho E se eu vendo ou empenho, para que respirar
Silvio Rodriguez

Laconicamente, esta palavra consegue resumir o sentimento de grande parte dos dirigentes e militantes com a atual situação do PDT. Desde nossa ultima convenção nacional várias declarações de dirigentes e militantes de todo o país apontavam para a necessidade de uma profunda e democrática discussão política onde nossos diretórios municipais e estaduais pudessem votar democraticamente seus posicionamentos em relação a linha política do PDT para as eleições presidenciais.

Porém, apostando única e exclusivamente em uma política de sobrevivência formal e eleitoreira da sigla partidária nossa executiva nacional tomou decisões no melhor estilo autoritário de alguns dos "comitês centrais" dos velhos partidos comunistas do século passado. Através da política do "quem tem 'juízo', tem medo" - definição das candidaturas estaduais após a convenção nacional que "define" a posição do PDT nas eleições presidenciais de 2002 e a manutenção de uma maioria de direções estaduais provisórias - a executiva nacional construiu uma cadeia de fatos consumados visando apoiar um candidato "dissidente" da oligarquia e uma aliança com partidos que defendem a política do FMI para o Brasil, são contra a CLT, defendem os latifúndios, entendem que a ALCA é interessante para o Brasil, entregam nossos meios de comunicação ao capital internacional ...

Para garantir tudo isso, fazemos hoje e amanhã uma convenção nacional que tem o papel simbólico de referendar uma decisão já encaminhada na prática pela executiva nacional desde 2001. Da mesma forma que não decidimos nada nos diretórios municipais e estaduais, provavelmente, não teremos nem inscrições para discussão dos pontos de pauta, apenas discursos de "parlamentares" ou dirigentes escolhidos a dedo e muito menos votação, apenas aclamações...

Porém, a necessidade destes "expedientes" demonstram a fragilidade da política implementada pela executiva nacional e sua pouca representatividade política real no seio do partido. Não tenhamos dúvida que a realidade pós eleitoral apresentará a fatura desses posicionamentos partidários. Exatamente por tudo isso que a executiva nacional propõe o fim do PDT e o surgimento de outro partido - a legalização daquela que sempre existiu, sem nunca ter existido: a frente trabalhista - onde, somando os martinez, jeffersons, fleuris e outros políticos profissionais da direita, garantam que a atual linha política eleitoreira e liberal continue hegemônica.

E quanto a militância do partido ? Esta hegemonizada pelos discursos conservadores e antidemocráticos, disseminados principalmente por indivíduos vinculados politicamente a executiva nacional, de que "o PDT sempre foi assim, e não vai mudar..." e que "questionar as decisões da executiva nacional significa estar contra o partido". Consequentemente, o que se vê nas bases reais do partido e, também em muitos dirigentes e parlamentares é a postura equivocada e em muitos oportunista de não defender publicamente suas propostas e a necessidade de democracia interna no partido ... para durante as eleições definir votos... e após caminhos...

Restam as perguntas: nesta contabilidade eleitoreira quantos militantes pedetistas e brizolistas valem um jefferson ? um fleuri ? um martinez ? Existirá essa preocupação por parte da executiva nacional ?
Aurelio Fernandes

40 anos, milita ininterruptamente no PDT desde 1982 é historiador com especialização em História do Brasil e sindicalista. Membro do Diretório Estadual do Rio de Janeiro e suplente do Diretório Nacional e ex-diretor da Fundação Alberto Pasqualini.
Foi dirigente nacional da Juventude Socialista do PDT por quatro mandatos.

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