Lutador do povo - Bayard Boiteux

Um ser humano e um lutador imprescindível

Bayard Demaria Boiteux (1916 - 2004)

Por Aurelio Fernandes

Quem conviveu com o nosso querido Professor Bayard Boiteux sabe que ele encarnava antes de tudo a possibilidade de manter a ternura no olhar e nas suas ações, mesmo tendo passado por maus momentos tanto nas duras condições da luta armada contra a ditadura como em sua cotidiana luta socialista por um Brasil livre e soberano. Momentos que em muitos outros trariam a amargura e a desesperança.

Denunciado à polícia da ditadura em 67 por um jovem a quem ele dedicava um sentimento que só se dedica aos filhos, torturado barbaramente na prisão, "apagado" da memória do companheiro de lutas que, durante anos, conviveu a seu lado e se recusou a comparecer ao tribunal militar alegando que não conhecia o acusado, provavelmente pelo medo que só uma ditadura pode revelar, e enfrentando após a prisão a amargura do exílio na Argélia e em Portugal, sofrendo perseguições mesquinhas dos serviçais da ditadura, manteve até os 88 anos seu otimismo humanista, não alimentando ódios ou revanchismos.

Foi reconhecido por seus companheiros de luta pela valentia e coragem inquebrantáveis, tanto durante a fase dos interrogatórios e do andamento do processo propriamente dito, como durante o período em que esteve preso pelo crime por defender de armas na mão a democracia brasileira.

Professor por vocação, ingressou por concurso no Colégio Pedro II, na rede estadual do Rio de Janeiro e em primeiro lugar para o Colégio Naval, sendo demitido quatro meses depois.

Doutor em Ciências e Ciências Econômicas, lecionou na PUC (sendo demitido por ser socialista), UNIRIO, UERJ. No exílio, lecionou cinco anos na Universidade de Argel e quatro anos na Faculdade de Economia e no Instituto de Serviços Sociais, no Porto, em Portugal.

Sindicalista por convicção, militou mais de meio século no Sindicato dos Professores sendo seu presidente por duas vezes. Socialista por compromisso com a luta pela justiça e pela liberdade, foi dirigente regional e nacional do velho PSB. Aproximou-se do trabalhismo, ficando ao lado do presidente Getúlio Vargas em 1950, antes e depois de sua morte.

De Brizola aproximou-se na década de 60, ficando ao seu lado até os dias de fundação e construção do PDT socialista, passando pela experiência histórica da resistência armada de Caparaó, implementada pelo Movimento Nacional Revolucionário MNR, em 67. Caparaó, ao contrário do que afirma a história oficial, foi fruto da resistência heróica à ditadura. Brasileiros convictos da necessidade de conquistar, da única maneira possível, naquele momento histórico, um país independente e soberano, que um dia será lembrada em nossas escolas como hoje são lembradas as Inconfidências Mineira e a Conjuração Baiana.

Em 1992, aos 76 anos de idade, afirmava: "Longos anos marcaram minha caminhada na vida pública, recheada de episódios inesquecíveis, que só serviram para reafirmar as minhas convicções e a minha disposição de continuar a luta por transformações sociais radicais". Até logo, humilde mestre, revolucionário e herói de nosso povo trabalhador, você estará sempre vivo e presente nas ações dos lutadores e lutadoras do povo que tem como razão de viver a luta socialista por um Brasil livre e soberano.

Comentários

  1. Muito obrigado por entender o trabalho de um lutador.
    Um forte abraço,
    Bayard Boiteux Filho

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  2. Durante muitos anos procurei saber o que era feito do meu querido amigo Bayard. Soube agora que já morreu e quando.
    Com ele convivi vários anos na Faculdade de Economia do Porto, para onde também eu fui trabalhar depois da Revolução do 25 de Abril de 1974. Convivi como colega. Convivi com ele e sua esposa como amigos. Convivi com ele quando foi miseravelmente afastado da docência em Portugal por não poder apresentar os diplomas das habilitações, ajudando a encontrar um mercado de explicações.
    Mais tarde estive em casa dele no Rio de Janeiro.
    Bayard era uma figura impar, que ainda hoje recordo com muita saudade. Tenho no meu gabinete uma fotografia em que nos abraçamos. Ele com o tradicional sorriso nos lábios, eu ainda com o cabelo todo preto.
    Era impar pela tolerância, amizade e convivialidade que transmitia. Um sorriso nos lábios, uma expressão amiga. Associado a um ar firme sempre que se falava de política e dos inimigos da liberdade. Esse optimismo manifestava-se nas questões fundamentais da vida (ele era ateu e sua esposa, pelo que pude perceber, católica) e nas mais pequenas coisas da vida (“esta é uma das minhas contradições”, afirmava quando no bar da Faculdade encomendava uma Coca-Cola).
    Era impar pela capacidade de ensinar. Professor de Matemática, a mal amada ciência, transmitia um entusiasmo contagiante nas aulas. Eu e alguns outros colegas íamos assistir algumas vezes às suas aulas. Primeira e última vez naquela Faculdade os alunos batiam palmas no fim da aula. Talvez por isso ainda hoje tem uma sala como o seu nome na Faculdade de Economia do Porto.
    Era impar pela imaginação criadora, susceptível de permitir avanços científicos. Recordo com frequência as suas explanações sobre as matrizes tridimensionais, cuja teoria tinha desenvolvido, como forma de ocupar o tempo, na prisão.
    Ainda hoje o recordo com alguma humidade no canto do olho.

    Carlos Pimenta
    pimenta@fep.up.pt

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    1. Carlos Pimenta:
      Por favor, fale mais sobre o trabalho matemático do Professor Bayard. Agradeço.

      Gustavo Silva (gustavoarsilva0@gmail.com)

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    2. Muito obrigado pelas gentis palavras e considerações sobre meu pai .Saudacoes ,Bayard Boiteux Filho

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    3. Fui aluna do professor Bayard , por 3 anos... se tenho alguma fundamentação boa em matematica devo a ele...
      Foi primeiro no Col. Est. Rivsdavia Correa

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    4. Fui aluna no Rivadavia Correa, e depois no Col. Est. Andre Maurois
      Foi o MELHOR professor de Matemática que tive, inesquecível
      AMÁVAMOS o prof Bayard... e devo a ele todos os demsis anos wue cursei ainda com muita facilidade essa materia... E geri meus negócios

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  3. Fui seu explicando no secundário. Tive a sorte de ele se ter instalado em Gaia, num apartamento do prédio onde uma tia minha vivia. Fui amigo de juventudo do seu filho Thales. Ainda hoje o recordo e agradeço-lhe ter-me ensinado também, uma superior forma de comunicação. Estou certo que algums coisa aprendi durante o convivio com um homem tão encantador. Um grande grande agraço cheio de sudades.
    Miguel Sousa Machado
    Softeca@gmail.com

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  4. Portugal excetuando Mário Soares que perseguiu meu pai nos fez muito bem e nos recebeu de forma exemplar.Ali fizemos muitos amigos que permanecem até hoje em nossas vidas .

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  5. Tive o prazer de trabalhar com o grande Mestre Bayard. Saudades

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  6. Bayard Boiteux foi meu professor de matemática, no extinto Colégio Estadual Rivadavia Corrêa, no Rio de Janeiro. Eu, uma adolescente de 15 anos, tinha (e tenho) profunda admiração pelo seu saber. Sempre elegante, de terno preto, usando caneta tinteiro, fazia a chamada. Ficava a admira-lo. Perdemos o contato. Ele foi para o exílio. Não tinha essa informação. Quarenta e cinco anos depois, encontrei sua sobrinha Lucia. O sobrenome me levou até ela. Tive notícias dele até os seus últimos momentos. Ele nunca soube de mim. Mas, eu nunca o esqueci. Continuo pesquisando sobre ele. Procurando um passado, talvez. Prof Bayard foi o meu grande amor da adolescência.

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  7. Foi meu professor de matematica analitica na feuc. Atraves dele conhecemos Brizola. Era diferente dando aula. Era amigo. Agradavel. Sabia ensinar. Relacionava bem com a turma. De muitos professores que tivemos. Esse foi especial. Deus abencoe esta familia.

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