Opinião - Prisioneiros do PT

Prisioneiros do PTAurelio Fernandes *

Existem setores da esquerda brasileira que se tornaram prisioneiros do PT. Não conseguem perceber que o PT se adaptou de modo oportunista à situação que recebeu do PSDB, dá continuidade à política econômica neoliberal - com o rosto mais humano das políticas compensatórias e optou por atuar dentro do sistema, abrindo mão de sonhos e utopias e se restringindo a ser a oposição consentida no jogo de manutenção do atual poder.

São prisioneiros de um Partido dos Trabalhadores que existiu apenas como uma possibilidade na luta entre os vários PT´s projetados pelas correntes engajadas na construção desse partido. Não conseguem vislumbrar que o PT que se consolidou a ferro e fogo pela hegemonia do denominado campo majoritário nas lutas internas petistas não é o PT de seus projetos derrotados nessas lutas e que se encastelou no governo federal.

Insistem em afirmar que ainda existem diferenças entre Lula e FHC, que seria uma estupidez não enxergar essas diferenças, o que podemos concordar. Mas, por outro lado, também podemos qualificar dessa forma a postura daqueles que não enxergam o desarme ideológico que significa ser prisioneiro da polarização de cunho eleitoral que esta sendo construída entre o PT(Lula) e o PSDB (FHC).

Esse desarme ideológico faz com que os prisioneiros do PT não entendam que são a política econômica do PT e a responsabilidade do presidente na corrupção de seu partido, no afã de sustentar sua política anti-popular e a sua reeleição, as grandes responsáveis pela possibilidade do retorno do PSDB ao governo federal e não a oposição pela esquerda dos mais variados matizes a essa política.

A lógica que aponta para a impossibilidade de alternativas políticas fora do eixo das políticas neoliberais do PT e do PSDB os torna prisioneiros de uma ilusão de que a correlação de forças existente na sociedade brasileira não pode ser modificada e, portanto, nos restaria assumir a visão profundamente conservadora da política como a arte do possível e a "inevitável" polarização eleitoral com o PSDB em 2006.

Com essa postura os prisioneiros do PT trocam a possibilidade de refletir de forma autocrítica e criativa sobre os fatores que levaram o PT a ser tornar uma alternativa real para o projeto neoliberal de nossas elites pela possibilidade de que em algum momento, seja no atual governo ou nas próximas eleições, o PT modificar sua atual política econômica e social mantida pelo hegemonismo absoluto do chamado campo majoritário no partido.

Subordinando-se a essa lógica da política como arte do possível, os lutadores e lutadoras sociais prisioneiros do PT terminarão por sacrificar no altar do capital toda sua experiência histórica acumulada nas lutas populares e classistas. Libertos dessa lógica, a experiência histórica desses lutadores poderá contribuir com o desafio de construir uma alternativa política a polarização neoliberal petucana desejada pela burguesia e o imperialismo.

Para isso necessitamos construir, sem sectarismos e hegemonismos, uma alternativa que, surgindo do calor das lutas populares e classistas e identificada com o fio da história das lutas do povo trabalhador brasileiro, aposte na formação de uma ampla frente política antiimperialista que seja o instrumento político popular e classista de um projeto histórico de poder popular das maiorias. Um poder popular que contribua efetivamente para a integração bolivariana e socialista de nossa América.

Para muitos isso não passaria de um sonho utópico... Porém, o que seria da humanidade sem os sonhos, sem a utopia dos projetos impossíveis? Para os setores políticos do campo popular e classista a política deve ser a arte de tornar possível amanhã o que no presente parece impossível. Somente assim estaremos exercendo o dever militante de levantar o mais alto possível a consigna de que o tempo das grandes aventuras e das grandes utopias do ser humano não acabou, e o impossível só existe no dicionário daqueles que, para sobreviverem, necessitam da miséria dos homens.

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