Para o PDT voltar a ser Brizolista

Manifesto aos militantes e dirigentes do PDT
Para o PDT voltar a ser Brizolista

“O amor é como uma xícara de chá que todos os dias cai no chão e se quebra em pedaços. Os verdadeiros apaixonados permanentemente juntam os pedaços, colam e reconstroem a xícara, porém sempre ficam com o receio de que chegue o dia em que a xícara esteja tão quebrada que não seja mais possível reconstruí-la”.
(Subcomandante Marcos do Exercito Zapatista de Libertação Nacional)

O Fórum de Militantes do PDT convoca os militantes brizolistas do partido a se organizarem e disputarem os diretórios municipais em seus municípios. Temos que mudar o PDT de baixo para cima, disseminando o posicionamento coerente da luta militante pela ruptura com a lógica eleitoreira e perversa da atual linha política liberal e eleitoreira do PDT, sob pena de o projeto histórico, expresso com tanta clareza na Carta de Lisboa e no Programa e Manifesto do PDT, ser irremediavelmente comprometido, restando, apenas, mais uma mera sigla de aluguel. Por isso mesmo, contamos com a leitura atenta das linhas seguintes.

Ao terminar o século XX, o PDT estava perante um dilema: enfrentar a contradição entre o brizolismo de suas bandeiras políticas e o eleitoralismo e liberalismo de suas ações políticas e organizativas. Caso contrário, o partido estaria condenado a enfrentar um profundo refluxo e mesmo a degeneração. A direção nacional do PDT optou por não enfrentar essa realidade. Os seguidos reveses eleitorais são a fatura dessa opção equivocada.

Hoje, em 2009, o PDT aprofundou, com a ausência de Brizola, a distância do enfrentamento das questões de importância estratégica para o país e, paralelamente, abandonou o projeto de formação de um partido de massa. Nada mais obscurece a falta de renovação de dirigentes, a descaracterização e o esvaziamento político e ideológico do PDT. Nosso partido transformou-se em uma organização meramente eleitoral, tornando-se mais uma legenda no mercado eleitoreiro do capital.

Daí ser de fácil entendimento o processo de cooptação petucana - PT e PSDB são hoje as faces da esquerda e direita de uma mesma moeda: o neoliberalismo petucano - que o PDT sofreu ao entrar na base aliada do Governo Lula, abandonando suas bandeiras históricas por um vago discurso de defesa do trabalho e de manutenção das conquistas da CLT que justifique a ocupação do MTE

O PDT não se posiciona firmemente sobre temas como a reforma agrária, urbana e política, a precariedade da educação pública, a inexistência de uma política de saúde e o ressurgimento do fascismo nas políticas públicas de segurança e na criminalização da pobreza e dos movimentos sociais.

O PDT nada diz sobre a omissão cúmplice do governo Lula em relação à necessária auditoria e revisão da privataria do governo entreguista FHC, quando a totalidade das empresas estratégicas foi doada ao capital internacional e a PETROBRAS transformada em uma “empresa estatal de interesse privado”. Omite-se quanto à entrega da Amazônia ao capital internacional e em relação aos enormes valores repassados ao agronegócio através de perdões e protelações de dívidas, enquanto a reforma agrária se torna uma política virtual e os assentamentos rurais e os pequenos agricultores são abandonados à própria sorte. Isto, sem falar na autonomia real do Banco Central nas mãos de um banqueiro tucano que garante rios de dinheiro aos Bancos e aos investidores internacionais.

No mais, questionar o perdão das dívidas das Organizações Globo ao BNDES ou levantar na prática a defesa contundente da democratização dos meios de comunicação e o combate das perdas internacionais seria exigir demais de um PDT domesticado.

A partir do abandono das bandeiras políticas brizolistas acaba a contradição com o eleitoralismo e liberalismo das ações políticas e organizativas nos levando a sucessivas derrotas eleitorais, ao esvaziamento do papel do PDT enquanto instrumento histórico do projeto brizolista do caminho brasileiro para o socialismo e o inchamento eleitoreiro do partido com políticos profissionais identificados unicamente com seus projetos pessoais.

Não é de hoje que vários militantes e dirigentes intermediários, ao tentarem discutir estas questões nas instâncias partidárias, são rotulados no mínimo como “dissidência” ou “esquerdistas”. Toda e qualquer posição divergente, mesmo que coerente com o projeto histórico brizolista do PDT, é estigmatizada como um ato de deslealdade com o partido, o que facilita à direção nacional seguir tomando decisões sem consultar as “massas” do partido. Tal postura vem comprometendo toda a possibilidade de aprofundar a discussão política nas instâncias do partido. Essa falta de democracia interna impede a conseqüente elevação da consciência política dentro do PDT e contribuiu sobremaneira para acabar com os últimos resquícios de sociabilidade digna nas instancias do partido.

Necessitamos retomar o PDT para seu projeto histórico brizolista. Um PDT forte, organizado e permanente, que contribua efetivamente com outras forças políticas identificadas com a libertação nacional e o socialismo, para a mobilização e organização da sociedade. Um partido que assuma o fio da história de lutas do povo trabalhador.

Para voltar a crescer, o PDT tem que implementar uma profunda transformação em nossa prática partidária, deslocando os esforços prioritários do partido no jogo democrático formal das eleições para o da organicidade partidária voltada para enfrentar a realidade de aprofundar a organização de nosso povo na luta de massas.

As experiências históricas do trabalhismo provaram que a conquista do poder inclui, mas não se limita à luta eleitoral. Os governos de Vargas e João Goulart demonstraram os imensos limites da democracia meramente eleitoral, dos quais o principal é saber se as elites estão dispostas a respeitar as decisões soberanas de um governo voltado para as maiorias. Demonstraram que a existência da pobreza e o crescimento da miséria indicam que não adiantam remendos na superfície da sociedade e da política. Temos que revirá-la pelo avesso, na busca da invenção de novas formas de convivência. De novos modos de relação de produção e partilha, em que a desigualdade, a hierarquia e o consenso passivo sejam substituídos pela ênfase na responsabilidade, na diferença, na solidariedade, na afirmação da vida.

O PDT necessita de uma nova linha política que, através da organização popular, mobilize o povo para apoiar a superação das contradições do programa de governo petista e construa na luta do povo uma alternativa à falsa polarização petucana entre PT e PSDB.

A adoção dessa nova linha política apostaria conscientemente na atuação orgânica do PDT nas lutas de massas, nos movimentos sociais e em torno da construção de uma alternativa de unidade popular e classista que realize mudanças estruturais – as reformas de base do velho trabalhismo – que apontem para o socialismo, e que, certamente a médio ou longo prazo, reverter-se-á em vitórias eleitorais consistentes e transformadoras.

Este, com certeza, não é o caminho mais fácil. Porém, abandonar o projeto histórico do PDT e manter um apoio incondicional ao governo petucano de Lula, ficando a reboque da política eleitoreira de “governabilidade” do PT e apostando na lógica de pactuar com as classes dominantes a profundidade e o ritmo das transformações, é apostar decisivamente na bancarrota do PDT. É legitimar e aprofundar a linha política que levou a degeneração liberal e eleitoreira do partido, a exemplo do desastrado apoio à candidatura de Eduardo Paes no Município do Rio.

Nossa luta é para que nunca chegue o dia em que a manutenção autoritária da atual linha política capitaneada pela direção nacional do partido e fundamentada na política do fato consumado, impeça que dirigentes e militantes reconstruam o projeto histórico brizolista do PDT. O desafio dos dirigentes e militantes do PDT que concordem com a necessidade dessa nova linha política e de uma nova organicidade partidária é encaminhar estas reflexões em todas as instâncias e garantir que a discussão política e a reflexão coletiva se incorporem na cultura política do PDT.

Pátria livre, venceremos! Brizola VIVE!


Rio, 07 de junho de 2009

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