Questionando a filiação do Prefeito Zito.

Mais uma vez a política do fato consumado...
A filiação do Prefeito Zito.

Mas uma vez constata-se a contradição entre a hegemonia do brizolismo na definição de nossas bandeiras políticas e a hegemonia do eleitoralismo e do liberalismo na definição das ações políticas e organizativas. Mais uma vez nossas executivas apostam na mera filiação de políticos profissionais em detrimento do fortalecimento partidário, esquecendo que, na maioria das vezes o caminho que parece mais fácil não é o que nos leva ao lugar esperado.
É interessante como é utilizada a exceção para nos convencer de que a regra não existe. Usam o companheiro Miro Teixeira como exemplo de um político que filiado ao PDT, assumiu o seu projeto histórico e hoje se transformou em uma liderança partidária. Como ficam então os lerners, os adhemares, os rossis, os alcantaras, os dantes os garotinhos e tantos outros que ao contrário de Miro usaram nossa legenda meramente para seus interesses pessoais impedindo o crescimento orgânico do partido. Quantas lideranças deixamos de formar ao priorizarmos o caminho fácil do eleitoralismo e corrermos atrás de políticos profissionais “com voto” e, na grande maioria, com históricos incoerentes com nossa legenda. Políticos que na esmagadora maioria dos casos usaram a nossa legenda descaradamente para seus interesses pessoais e eleitoreiros.
Pode até ser que o Zito seja uma exceção... Será ??? Sua biografia não ajuda muito. Mesmo nos abstraindo da acusação de seus adversários políticos de ligações com grupos de extermínio, o truculento e assistencialista Zito era “casado” com o PSDB - relator do processo de “cassação” das contas do segundo governo Brizola -, pleiteou a candidatura a governador pelo PSDB e não conseguindo “rompeu seu relacionamento”. A partir daí “flertou” com o PSB - pleiteando uma candidatura majoritária -, “namorou” com o PDT - desde que fosse o candidato a governador - , “ficou” com o PMDB alguns dias e terminou por “reatar o casamento” com o PSDB. Durante as eleições de 2002 “pediu um tempo ao PSDB” e “namorou” o PT e o PDT apoiando Lula e Jorge Roberto. Ao terminar as eleições decidiu “divorciar-se” do PSDB e “contrair matrimônio” com o PDT.
Poderíamos propor que, perante a um político tão “volúvel”, deveríamos condicionar a sua filiação a um período de quarentena de eleições majoritárias até as eleições municipais de 2008. Porém propor essa medida seria o mesmo que propor a um(a) nubente que após a cerimônia de casamento se abstenha durante aproximadamente 06 anos da “intimidade de convivência” com sua esposa ou marido até que se tenha claro que o seu compromisso é serio. Quem se habilitaria a um “casamento” baseado na desconfiança?
Brincadeiras a parte, por mais que se afirme que o procedimento de filiação do Prefeito de Duque de Caxias esteja de acordo com o estatuto partidário seria coerente levar essa discussão para o Diretório Estadual do Rio de Janeiro sem a necessidade de pedidos de impugnação para que isso ocorra. Porém, mais uma vez, com o apoio ou não do estatuto, retoma-se a política do fato consumado onde os militantes e dirigentes intermediários são “convidados” a participar de um ato de filiação sem ao menos serem ouvidos sobre a conveniência ou não dessa filiação.
Assim como em outros momentos – frente trabalhista, candidatura Ciro e, mais recentemente, na discussão sobre participação no Governo Lula - onde seria importante a participação dos diretórios estaduais e nacionais na avaliação e discussão e, não apenas na homologação do fato consumado, optou-se conscientemente pela avaliação, discussão e decisão solitárias dos membros da executiva nacional.
Essa centralização das discussões e decisões políticas nas executivas, mais do que um método equivocado de direção nega aos militantes e dirigentes que são membros dos diretórios de contribuírem na construção de nosso próprio destino e do partido. A base partidária deveria ter espaços para discutir, questionar, contribuir e não participar de instâncias que se resumem a debates de convencimento dos militantes sobre a linha política já decidida e encaminhada pelas direções. Disciplina e lealdade partidária não podem ser confundidas com obediência, nem com confiança cega nas direções.
No documento que apresentei ao Seminário do PDT em dezembro de 2002 lembrei de uma coisa muito bonita que o subcomandante Marcos, do Exercito Zapatista de Libertação Nacional diz sobre a relação entre apaixonados: “O amor é como uma xícara de chá que todos os dias cai no chão e se quebra em pedaços. Os verdadeiros apaixonados permanentemente juntam os pedaços, colam e reconstroem a xícara, porém sempre ficam com o receio de que chegue o dia em que a xícara esteja tão quebrada que não seja mais possível reconstruí-la”.
Novamente militantes e dirigentes intermediários de nosso partido e que entendem que a construção de um partido político com o projeto histórico do PDT tem de romper com as contradições de nossa atual linha política, baseada na política do fato consumado, terão que reconstruir o seu amor e dedicação ao projeto histórico do PDT. Mais uma vez...

Prof. Aurelio Fernandes
40 anos, 22 anos de militância ininterrupta no PDT, Professor de História com especialização em história do Brasil, sindicalista, membro do Núcleo Ruy Mauro Marini do PDT, do Diretório Estadual do Rio de Janeiro, suplente do Diretório Nacional e ex-diretor da Fundação Alberto Pasqualini.

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