Uma nova linha política para um novo momento

Construir coletivamente os rumos de um PDT brizolista
Proposta do Núcleo Ruy Mauro Marini do PDT*

“De pouco adiantará que nós, trabalhistas, amanhã, concorramos a eleições, elejamos companheiros prefeitos, governadores, presidente da republica. Isto nada significará, pelo contrário, será até um retrocesso se essas responsabilidades na condução do País forem conquistadas sem que tudo isso seja respaldado por um grande partido, por quadros preparados e por soluções alternativas antecipadamente estudadas. Porque isto seria a condução de um companheiro para um cargo com uma multidão desorganizada atrás. O próprio presidente Vargas teve que dar um tiro no coração porque, para respaldá-lo, não havia o povo organizado. Essa é a nossa grande tarefa. E se nós necessitarmos permanecer anos e anos na oposição organizando o nosso partido, não tem importância. O essencial é que o partido se organize e adquira as dimensões que o nosso povo necessita para que então esse partido seja o seu instrumento.” Leonel Brizola em Lisboa - 1979

A particularidade e potencialidade do PDT reside no fato de que ainda existe em nosso partido uma contradição histórica entre a hegemonia do brizolismo na linha política do PDT e a hegemonia do eleitoralismo e do liberalismo em nossas concepções de organização e ação partidárias que no nosso entender devem ser superadas.
Os diretórios privilegiam a discussão do exercício e/ou conquista de cargos públicos à definição de linhas políticas para as instâncias do PDT e para nossa atuação nos movimentos urbanos e do campo. Questões primárias relativas à organização como: planejamento, reuniões permanentes, capacitação política, imprensa partidária periódica e permanente e uma política de finanças que seja menos dependente dos militantes com cargos de confiança seja nos parlamentos seja nos governos e do fundo partidário, são relegadas a um segundo plano.
Tudo isso afeta profundamente a democracia interna e nos afasta das lutas sociais concretas dos excluídos, tornando inorgânica e inócua a atuação de nossos militantes nas lutas de massas, subordinando toda a ação política do partido à participação exclusivamente parlamentar e eleitoral cujos resultados tem sido lastimáveis.
Para voltarmos a crescer eleitoral e partidariamente teremos que implementar uma profunda transformação em nossa prática partidária, deslocando os esforços do partido, centrados unicamente no jogo democrático formal das eleições, para priorizar o da realidade da luta de massas de nosso povo.
Hoje existem vários posicionamentos no seio do PDT sobre as alternativas do partido após as eleições de 2004 que vão, dentre outras, desde a manutenção da atual linha política do PDT - mantendo a contradição histórica entre a hegemonia do brizolismo na linha política e a hegemonia do eleitoralismo e do liberalismo em nossas concepções de organização e ação partidárias -, passando pela reconstrução do PDT reafirmando nosso programa e manifesto que colocam o trabalhismo como caminho brasileiro para o socialismo, indo até a fusão com o PPS em um novo partido.
Entendemos que quando algum posicionamento não é compartilhado por todo o partido deve-se aprofundar a discussão política e que só devem ser implementadas decisões que tenham logrado transformarem-se em um sentimento generalizado nas bases do partido, pois isso evita as nefastas divisões internas que são históricas nos movimentos e partidos de esquerda e evita que se cometam grandes erros.
Nesse sentido os militantes brizolistas do Núcleo Ruy Mauro Marini do PDT entendem ser fundamental a realização de um Congresso Nacional do PDT, que não é realizado desde 1993, para a elaboração coletiva de uma linha política para o PDT que aborde todas essas questões. Essa linha política nacional deve ser posteriormente reelaborada por todas as instâncias e setores do PDT.
O grande desafio do PDT é formular uma linha política que contribua para iniciar a construção de um processo de ruptura com a realidade de crise dominante no campo da esquerda, o capacite a ocupar o espaço de esquerda popular no espectro político que a corrente que hoje hegemoniza o PT deixou vazio e que absorva a liderança de Brizola sobrevivendo à sua existência política como continuação de seus ideais e carisma.
Para isso propomos:
1.sejam realizados Encontros dos diretórios estaduais, entre a segunda quinzena de fevereiro e a primeira quinzena de março de 2005, ampliadas com a presença das executivas municipais, zonais e de movimentos, para a discussão sobre os Rumos do PDT - as perspectivas do PDT, a linha política, a atuação do partido nos movimentos sociais e no processo eleitoral de 2006.
2. a executiva nacional divulgue em abril de 2005 os vários posicionamentos oriundos dessas reuniões através de uma publicação (jornal ou revista) e pela Internet que seria enviada a todos os membros dos diretórios nacional e estaduais para enriquecer a discussão.
3. seja realizada uma reunião do diretório nacional em maio de 2005 com duração de um fim de semana onde seja aprovado um documento base para o Congresso Nacional, confeccionado pela executiva nacional a partir das contribuições trazidas pelos diretórios estaduais.
4. seja realizado um Congresso Nacional do PDT em junho de 2005 para discutir os Rumos do PDT - as perspectivas do PDT, a linha política, a atuação do partido nos movimentos sociais e no processo eleitoral de 2006.
5. sejam realizados Congressos Estaduais do PDT em agosto de 2005 que discutirão as linhas políticas estaduais a partir da nacional e as perspectivas e atuação do PDT nos estados.
6. sejam realizados Congressos Municipais do PDT em setembro de 2005 que discutirão as linhas políticas municipais a partir da estadual e as perspectivas e atuação do PDT nos municípios.
7. que a executiva nacional realize um Seminário Nacional de Planejamento Estratégico da Fundação Alberto Pasqualini na segunda quinzena de janeiro de 2005. Um seminário que vise à estruturação da FAP enquanto um centro de apoio a organização partidária do PDT onde o principal desafio em 2005 será contribuir para o processo de construção coletiva de uma linha política do PDT em todas as nossas instâncias e capacitar nossa militância sem perder de vista a manutenção de nossas características de partido popular.


*defendida por Aurelio Fernandes na reunião do Diretório Nacional do dia 03 de dezembro de 2004
43 anos, milita ininterruptamente no PDT desde 1982 é historiador com especialização em História do Brasil e sindicalista. Membro do Diretório Estadual do Rio de Janeiro e suplente do Diretório Nacional e ex-diretor da Fundação Alberto Pasqualini. Quando jovem foi diretor da UEE-RJ e dirigente nacional da Juventude Socialista do PDT, contato: aurefern@aol.com ou 021 9143 1830

Comentários

  1. Meu amigo Aurélio. Inicialmente, externo enorme tristeza por sua saída do PDT. Inquestionável sua dedicação e luta em manter nosso Partido alinhado a sua história. Sou testemunha disso. Sei e reconheço de coração aberto, da capacidade e do caráter que marcam sua vida e trajetória no PDT. Você é uma referência indiscutível e que serve de espelho para muitos. Você sempre alicerçou seus pensamentos e projetos, nos princípios fundamentais da vida, honestidade, fidelidade, lealdade, justiça, honra, dignidade e outros mais, que todos nós sabemos.O PDT perde um grande homem, o PDT perde àquele que sempre lutou ao lado de BRIZOLA contra tudo que esse capitalismo selvagem fez e faz de danoso ao nosso POVO. Todavia, não seria diferente esse ato de desfiliação, diante da grandeza da sua trajetória e irresignação que a cada instante nos deparamos no PDT. Confesso, que por muitas vezes pensei nisso, mas me acovardei, entendi que dentro dele, um dia poderia ser diferente, e sua gênesis brotaria novamente. BRIZOLA e o brizolismo são inseparáveis, e o PDT não poderia se desalinhar da sua longa caminhada, de lutas e conquistas. Relevante dizer ao amigo, que por muitas das vezes, conquanto mais afastado dos debates, quando refletia sobre uma possível saída, lia seus e-mails, mensagens e chamados e, então, àquele sentimento era removido, pelo simples fato de saber, ainda há vida dentro do PDT, ainda há esperança dentro do PDT, ainda há luta dentro do PDT, lá tem nosso amigo e companheiro Aurélio, que por seu ideal, e por muitos ausentes, como eu, luta pela sobrevivência do PDT consubstanciado na sua origem. Não direi que é uma mistura de tristeza com alegria, tristeza por saber que nosso amigo resolveu sair em obediência aos seus ideais, alegria por ter nessa decisão, a ratificação do caráter, lealdade e fidelidade do grande amigo Aurélio. Tive a honra de ser seu eleitor. Decerto meu VOTO foi perfeito. E Votarei quantas vezes necessário for. Amigo dentro do PDT e fora. Estarei e estou solidário a sua decisão. Conte sempre comigo. Grande abraço.

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